Ao olhamos para o tema da sexualidade feminina nos últimos anos, não há duvidas de que evoluímos muito. Desde os primeiros movimentos feministas e da criação da pílula anticoncepcional até os dias atuais, muita coisa mudou. E mudou para melhor. Mas mesmo com toda essa abertura, ainda estamos bem longe do culto à feminilidade que pautou boa parte dos cultos pagãos da Antiguidade. E, nesse contexto, está a origem do Tantra.
Os primeiros registros históricos sobre as práticas que compõem o Tantra datam de cerca de 3 mil a.C. A partir do conjunto de escrituras denominadas “Tantras”, encontradas na região que circunda a Cordilheira do Himalaia, desenvolveu-se todo um sistema de crenças que pregava que o caminho para a iluminação se dava pela experimentação de estados alterados de consciência. Nessa época, uma sociedade de características matriarcais venerava a fertilidade da natureza e reverenciava os mistérios femininos.
Shakti: o sagrado feminino no Tantra
No Tantra, a mulher é a representação da Shakti, o princípio feminino do universo que dá vida ao seu oposto complementar masculino, representado por diferentes deidades, dentre eles o deus Shiva. Segundo as escrituras tântricas “Shiva sem Shakti é Shava”, sendo que a palavra “Shava,” em sânscrito (o idioma original dos Tantras), significa “cadáver”.
A Shakti representa a força inexplicável da natureza que dá vida e, ao mesmo tempo, com seus ciclos, suscita um ar de mistério e também – por que não? – sedução. No Tantra, ao invés da repressão da sexualidade feminina como se observa em muitas religiões monoteístas, a mulher é estimulada ao autoconhecimento e à investigação de seu próprio corpo. Para os tântricos, a expansão da consciência depende do despertar da Kundalini, a energia vital tântrica, sendo que o feminino é o veículo para elevar essa carga energética a níveis mais elevados. O despertar da Kundalini desenvolverá uma maior capacidade de amar, no mais amplo sentido da palavra “Amor”.
No Tantra, a mulher encontra um caminho para explorar sua própria sexualidade, de forma saudável e sem tabus. Aliás, dentro da filosofia tântrica, a quebra de tabus – pessoais e sociais – é considerada uma das bases para se adentrar nos misteriosos domínios da polaridade feminina do universo. Assim, a mulher tântrica é convidada a seduzir e experimentar diferentes formas de prazer, como meio para ampliar sua autoconsciência.
Nunca é tarde para resgatar Shakti
Nesse sentido, o Tantra encontra no atual contexto histórico uma grande oportunidade de resgate em sua essência, na medida em que a mulher ganha um novo papel na sociedade moderna. Embora ainda exista muito desconhecimento e muitas distorções sobre o real significado do Tantra para a sexualidade, uma coisa é certa: o sexo tântrico passa, necessariamente, pela exaltação e total respeito à feminilidade.
A Shakti é a iniciadora tântrica de sua contraparte masculina e isso acontece, inclusive, no nível individual, já que todos os indivíduos possuem as polaridades do masculino e do feminino dentro de si. Mesmo para o homem que queira explorar as práticas tântricas, cabe a ele a adoção de uma postura de aceitação e exaltação à sexualidade feminina.
E, assim, o Tantra convida a mulher moderna a buscar autoconhecimento. Para isso, dispõe de uma base filosófica bastante flexível, além de práticas meditativas, rituais e, sobretudo, corporais, o que inclui algumas técnicas para serem utilizadas durante o ato sexual. Além de ampliarem a experiência de prazer, tais técnicas visam, acima de qualquer coisa, a expansão da consciência. Isso porque, em última instância, a mulher tântrica é consciente da necessidade de uma sexualidade livre de amarras para que se tenha uma vida mais prazerosa e com mais amor.